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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Formas do nada - Paulo Henriques Britto.


Desde o título, Formas do nada não deixa dúvida sobre o jeito de Paulo Henriques Britto praticar a poesia. O som aberto e incisivo dos “as” e a batida firme e séria do ritmo anunciam a pegada combati

va de quem não está para contemplações ou devaneios.
Sofisticado em seu uso da rima e da métrica, o poeta faz exercícios para melhor estourar a forma clássica: “A realidade é um calhamaço insuportável?/ Tragam-me então resumos./ A vida que se leva é um filme inassistível?/ Vejamos só os anúncios.// São os limites do corpo intrusões malignas/ de um demiurgo escroto?/ O corpo não é preciso, e o espírito é impreciso:/ eu não é um nem outro”.
A inteligência busca o sentido das coisas e quase teme não encontrar nenhum. “Quase” porque o temor se transforma em força e desafio diante do ilimitado: o poeta, que se vê frágil e irredutível, trata de organizar o mundo com sua voz, com a qual captura o que talvez viva na sensação de vazio e sem sentido.
A poesia de Paulo Henriques Britto, permeada pelo humor irônico de quem quase não se permite ter esperança, opera uma prestidigitação impecável e engana o leitor: diz produzir “sofríveis simulacros de sentido”, mas na verdade produz vida palpável e sonora.

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